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No clássico filme de 1935, "Uma Noite na Ópera" - com os Irmãos Marx -, Harpo, totalmente adormecido, começa a agarrar as meninas que estavam tentando limpar a cabine de navio onde Groucho estava hospedado, que não titubeou: "Ele faz melhor dormindo do que eu acordado". Apesar do hilário espírito da famosa cena da cabine, na vida real existe um grave distúrbio do sono que levam homens e mulheres a praticarem sexo ou se masturbarem dormindo e não se lembrarem de absolutamente nada no dia seguinte. É a sexsomnia (em inglês), sexâmbulo (em espanhol) ou, em termos médicos, parasonia sexual.
O assunto desperta a curiosidade geral (uma só procura no Google pela expressão "sleep sex" - sexo durante o sono, em inglês - traz 552.000 resultados) e os estudos a respeito são relativamente recentes.
Em 1996, três especialistas canadenses em distúrbios do sono - os médicos Colin Shapiro, Nik Trajanovic e Paul Fedoroff - publicaram a primeira pesquisa médica a respeito do problema. Três anos depois, um grupo de médicos brasileiros do Centro de Estudos do Sono do Hospital das Clínicas, vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, mostrou que a doença poderia ser tratada farmacologicamente. Entre eles, estava Flávio Aloe, neurologista e neurofisiologista clínico.
Em entrevista ao Terra, Aloe explica que essa condição é uma variante da parasonia normal, que é um distúrbio do nível de consciência e uma dissociação entre fazer e lembrar. Ou seja, clinicamente não há muita diferença entre o sexâmbulo e um sonâmbulo que se levanta a noite, dá alguns passos pela casa e volta a dormir.
"É, porém, uma condição potencialmente constrangedora e com conseqüências graves já que se for um assédio executado em uma pessoa não consentida, pode causar até uma acusação médico-legal. Imagine uma pessoa que seja supervisora em um acampamento de adolescentes e assedia à noite um jovem dentro deste conceito. É devastador para a pessoa e para o jovem", avalia.
E não são poucos os exemplos de gente que se deu mal devido a esse tipo de sonambulismo. Em 2005, o canadense Jan Luedecke foi julgado por ter estuprado uma mulher dois anos antes e livrou-se da acusação quando foi constatado que ele sofria de sexomnia. O próprio doutor Shapiro, do estudo inicial, testemunhou em favor do acusado alegando que não há crime quando não há a intenção de cometê-lo. O caso dividiu a opinião pública do país e atraiu a fúria de organizações de proteção à mulher.
Em 2007, um mecânico da Força Aérea Britânica, Kenneth Ecott, também foi inocentado da acusação de ter violentado uma menina de 15 anos, quando foi diagnosticado o mesmo problema. Na Austrália, em março último, a lei foi mudada nos territórios do norte já que mais uma pessoa foi inocentada de estupro devido a um testemunho médico. Os promotores querem mais rigor nesses casos.
Ainda este ano, a inglesa Haley Batty se tornou um sucesso na internet graças a um vídeo onde confessava ser uma sexâmbula e declarar que transa de três a quatro vezes por noite sem ter a menor lembrança no dia seguinte.
E não é só sexo que está envolvido na parasonia sexual. Em alguns casos estudados a pessoa se masturba e muitas delas acabam se machucando graças a uma falta de controle e até mesmo violência no ato.
E, antes que você ache que existam vantagens nesse tipo de comportamento onírico, saiba que muitos relacionamentos terminam devido ao medo dos parceiros ou até mesmo à falta de informação a respeito. A própria Senhorita Batty declarou que já levou muitos foras de homens que não acreditam que ela estava dormindo ou aqueles que se ofenderam por achar que ela estava zombando da performance dele. Em Singapura, um homem viu seu casamento se arruinar, pois sua mulher se sentia traída pelo fato dele se masturbar todas as noites enquanto roncava.
Preconceito leva a falta de informação
Obviamente que um comportamento assim gera uma situação de embaraçosa para quem está envolvido. Muitas pessoas, por temor a um vexame ou prejuízo de sua imagem pessoal, não procuram um médico quando são tomados pela performance sexual durante o sono.
Mesmo a sexsomnia em si não foi reconhecida pela Academia Americana de Medicina do Sono até 2005, o que aumenta essa resistência dos pacientes. O psicólogo da Universidade de Michigan e autor do livro "Sleepsex: Uncovered" (Sexo durante o sono: descoberto, em inglês) acredita que existam muito mais casos que os relatados.
O site www.sleepsex.org dá informações a respeito do distúrbio e pede para pessoas relatarem seus casos para que o estudo do distúrbio possa ser aprofundado. No Brasil não é diferente. O médico Aloe explica que existem pouquíssimos eventos relatados e que dificilmente são classificados como condições médicas.
Assim como no sonambulismo normal, a parasonia sexual manifesta-se em pessoas que tem uma pré-disposição genética na família. Também existem fatores estressores como privação de sono, stress sócio-psicológico, medicação e abuso de álcool e drogas que podem desencadear a doença.
"Não que esses fatores façam alguém, que nunca teve nada na sua história de vida, ter esse transtorno do despertar. Faz parte do conjunto de fatores de risco. Não conheço na literatura alguém que tenha inaugurado um caso de parasonia sexual sem ter tido histórico familiar de transtorno do despertar ou acessos antes", explica o especialista brasileiro.
O tratamento é tão simples quanto nos casos de parasonia tradicional: uma dose baixa de um medicamento que consolide o sono e, mais importante de tudo, alterações comportamentais focadas a corrigir os fatores desencadeantes como excesso de cafeína ou atividade física no horário errado. Nesses momentos, o que se convencionou chamar de higiene do sono é fundamental.
É necessário, ainda, entender que durante o sono você pode ter a reprodução de todo o repertório sobrevivencial como andar, falar, comer, atacar ou se defender. Este tipo de atitude, porém é inibido por outras estruturas mais fortes no nosso sistema nervoso central, mesmo porque de que serviria fazer esse tipo de atividade dormindo se o que o corpo e a mente da pessoa estão procurando é descansar?
Dentro da evolução humana, não é nada produtivo. Se você já passou por essa situação antes ou foi "vítima" de um sexâmbulo o melhor é procurar um centro de estudo de sono ou um neurologista. Acredite que, por mais divertido que possa parecer ter a capacidade de transar dormindo, o melhor mesmo é poder responder à pergunta "foi bom para você também?" depois do ato.
O assunto desperta a curiosidade geral (uma só procura no Google pela expressão "sleep sex" - sexo durante o sono, em inglês - traz 552.000 resultados) e os estudos a respeito são relativamente recentes.
Em 1996, três especialistas canadenses em distúrbios do sono - os médicos Colin Shapiro, Nik Trajanovic e Paul Fedoroff - publicaram a primeira pesquisa médica a respeito do problema. Três anos depois, um grupo de médicos brasileiros do Centro de Estudos do Sono do Hospital das Clínicas, vinculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, mostrou que a doença poderia ser tratada farmacologicamente. Entre eles, estava Flávio Aloe, neurologista e neurofisiologista clínico.
Em entrevista ao Terra, Aloe explica que essa condição é uma variante da parasonia normal, que é um distúrbio do nível de consciência e uma dissociação entre fazer e lembrar. Ou seja, clinicamente não há muita diferença entre o sexâmbulo e um sonâmbulo que se levanta a noite, dá alguns passos pela casa e volta a dormir.
"É, porém, uma condição potencialmente constrangedora e com conseqüências graves já que se for um assédio executado em uma pessoa não consentida, pode causar até uma acusação médico-legal. Imagine uma pessoa que seja supervisora em um acampamento de adolescentes e assedia à noite um jovem dentro deste conceito. É devastador para a pessoa e para o jovem", avalia.
E não são poucos os exemplos de gente que se deu mal devido a esse tipo de sonambulismo. Em 2005, o canadense Jan Luedecke foi julgado por ter estuprado uma mulher dois anos antes e livrou-se da acusação quando foi constatado que ele sofria de sexomnia. O próprio doutor Shapiro, do estudo inicial, testemunhou em favor do acusado alegando que não há crime quando não há a intenção de cometê-lo. O caso dividiu a opinião pública do país e atraiu a fúria de organizações de proteção à mulher.
Em 2007, um mecânico da Força Aérea Britânica, Kenneth Ecott, também foi inocentado da acusação de ter violentado uma menina de 15 anos, quando foi diagnosticado o mesmo problema. Na Austrália, em março último, a lei foi mudada nos territórios do norte já que mais uma pessoa foi inocentada de estupro devido a um testemunho médico. Os promotores querem mais rigor nesses casos.
Ainda este ano, a inglesa Haley Batty se tornou um sucesso na internet graças a um vídeo onde confessava ser uma sexâmbula e declarar que transa de três a quatro vezes por noite sem ter a menor lembrança no dia seguinte.
E não é só sexo que está envolvido na parasonia sexual. Em alguns casos estudados a pessoa se masturba e muitas delas acabam se machucando graças a uma falta de controle e até mesmo violência no ato.
E, antes que você ache que existam vantagens nesse tipo de comportamento onírico, saiba que muitos relacionamentos terminam devido ao medo dos parceiros ou até mesmo à falta de informação a respeito. A própria Senhorita Batty declarou que já levou muitos foras de homens que não acreditam que ela estava dormindo ou aqueles que se ofenderam por achar que ela estava zombando da performance dele. Em Singapura, um homem viu seu casamento se arruinar, pois sua mulher se sentia traída pelo fato dele se masturbar todas as noites enquanto roncava.
Preconceito leva a falta de informação
Obviamente que um comportamento assim gera uma situação de embaraçosa para quem está envolvido. Muitas pessoas, por temor a um vexame ou prejuízo de sua imagem pessoal, não procuram um médico quando são tomados pela performance sexual durante o sono.
Mesmo a sexsomnia em si não foi reconhecida pela Academia Americana de Medicina do Sono até 2005, o que aumenta essa resistência dos pacientes. O psicólogo da Universidade de Michigan e autor do livro "Sleepsex: Uncovered" (Sexo durante o sono: descoberto, em inglês) acredita que existam muito mais casos que os relatados.
O site www.sleepsex.org dá informações a respeito do distúrbio e pede para pessoas relatarem seus casos para que o estudo do distúrbio possa ser aprofundado. No Brasil não é diferente. O médico Aloe explica que existem pouquíssimos eventos relatados e que dificilmente são classificados como condições médicas.
Assim como no sonambulismo normal, a parasonia sexual manifesta-se em pessoas que tem uma pré-disposição genética na família. Também existem fatores estressores como privação de sono, stress sócio-psicológico, medicação e abuso de álcool e drogas que podem desencadear a doença.
"Não que esses fatores façam alguém, que nunca teve nada na sua história de vida, ter esse transtorno do despertar. Faz parte do conjunto de fatores de risco. Não conheço na literatura alguém que tenha inaugurado um caso de parasonia sexual sem ter tido histórico familiar de transtorno do despertar ou acessos antes", explica o especialista brasileiro.
O tratamento é tão simples quanto nos casos de parasonia tradicional: uma dose baixa de um medicamento que consolide o sono e, mais importante de tudo, alterações comportamentais focadas a corrigir os fatores desencadeantes como excesso de cafeína ou atividade física no horário errado. Nesses momentos, o que se convencionou chamar de higiene do sono é fundamental.
É necessário, ainda, entender que durante o sono você pode ter a reprodução de todo o repertório sobrevivencial como andar, falar, comer, atacar ou se defender. Este tipo de atitude, porém é inibido por outras estruturas mais fortes no nosso sistema nervoso central, mesmo porque de que serviria fazer esse tipo de atividade dormindo se o que o corpo e a mente da pessoa estão procurando é descansar?
Dentro da evolução humana, não é nada produtivo. Se você já passou por essa situação antes ou foi "vítima" de um sexâmbulo o melhor é procurar um centro de estudo de sono ou um neurologista. Acredite que, por mais divertido que possa parecer ter a capacidade de transar dormindo, o melhor mesmo é poder responder à pergunta "foi bom para você também?" depois do ato.
7 comentários:
Muito inusitado e curioso! Nunca ouvi nada a respeito antes. Deve ser tb porque não sou da área. Mas realmente não deve ser mesmo divertido, principalmente porque a pessoa não deve ter gozado o momento, conscientemente falando (desculpe os trocadilhos, não quis fazer gozação...). Agora, fico imaginando como uma pessoa pode ser vítima de um sexâmbulo autêntico, no sentido negativo da coisa. Não daria pra escapar mesmo? Aparece cada coisa maluca hoje em dia, ao menos não é um desse distúrbios assassinos. Será que tem variações desse mal, tipo, sadomasô...?
Excelente matéria!
Conheço algumas pessoas que tem o distúrbio e, francamente, nenhuma delas disse ter sofrido ou que pretende procurar alguém para fazer tratamanto.
Lembram-se apenas de passagens de um sonho erótico... E a maioria não vê a hora de passar pela experiência novamente!!
VAGO HA ANOS PELO MUNDO A PROCURA DA MULHER-SLEEP-SEX E POR ISSO NAUM CASEI ATE HOJE.
UNS DIZEM QUE EH LENDA, TAL QUAL A LOIRA-DO-BANHEIRO E A GANG-DA-MULHERES-GOSTOSAS-INSASIAVEIS-ESTUPRADORAS.
IMAGINE ACORDAR NO MEIO DA NOITE COM UMA DOIDA DESSA DO LADO ?
DESCULPEM-ME PELO 'INSACIAVEIS' ANTERIOR.
PURA EMOÇAO !
O tratamento deve ser uma boa, mas deve ser duro:
=> Teu parceiro dizer que você é melhor de cama dormindo do que acordada;
=> Saber que seus filhos não são filhos do seu marido, mas sim dos vizinhos;
=> Descobrir que aquela dor nas costas não é de lavar roupa e esfregar o chão;
=> Receber intimação por assédio sexual no trabalho por causa da ‘siesta’;
=> E saber que você já teve experiências homossexuais;
Um relacionamento com um 'ser' assim deve ser complicado: sexo toda noite é bom, mas quando a famosa 'dor de cabeça' aparecer não vai ter desculpa.
Depois que a síndrome do pânico virou moda há alguns anos, todo disturbio é perigoso.
Imagina se a moda pega, ainda mais com esse negócio de que "não há crime quando não há a intenção de cometê-lo".
Deixa a notícia espalhar, deixa.
Ah...se minha mulher fosse sexâmbula...(suspiros)
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