terça-feira, 28 de setembro de 2010

Brooks e West, as “avós” de Megan Fox

Publicado no site da revista Alfa em setembro de 2010
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Estou com saudades de Megan Fox. Infelizmente agora que está casada, com um grande fracasso na cabeça (Jonah Hex) e demitida do elenco de Transformers III, a menina parece estar mais contida e parou de dar entrevistas deliciosamente chocantes e criar factóides. Ninguém há de negar que a atriz é uma das coisas mais bonitas e gostosas que já apareceu nas telonas (embora eu acredite que sua interpretação mais sensual foi como a neta de Berta lavando os vidros do deck de Charlie em Two and a Half Men), mas um dos grandes segredos do seu sucesso veio de polêmicas, sempre girando em torno de suas preferências sexuais e relação com atores e atrizes. Disse, por exemplo, que queria transar com Olivia Wilde, a 13 do seriado House, que tinha nojo de homens, e que usar os atributos físicos para ter sucesso dá poder às mulheres e não as degradam. Era tanta notícia sobre ela que os sites americanos declararam o 4 de agosto de 2009 como “o dia sem Megan Fox”, ou seja, nada sairia sobre a atriz.

Megan vem de uma grande tradição de garotas-problema que fazem a alegria dos fãs e da imprensa de celebridades e desesperam os mais conservadores. Apesar de muita gente a comparar com Angelina Jolie, outra grande musa cheia de declarações e atitudes bombásticas, com pitadas até de incesto, a história vem de muito antes. Já nos tempos do cinema mudo, o planeta se encantou e se chocou com uma grande atriz, Louise Brooks. Belíssima e de uma personalidade forte, ela não se dobrava frente aos diretores e produtores de uma época onde atores e atrizes não tinham nenhum poder de decisão. Acreditava que uma mulher bem vestida, mesmo com a bolsa vazia, pode conquistar o mundo e depois de conseguir brigar com quem podia em Hollywood foi para a Europa, onde estreou o filme que a tornou mais famosa, o clássico alemão A Caixa de Pandora de Georg Pabst e viveu um tórrido romance de verão com Charlie Chaplin.

Sua vida pessoal, aliás, foi fonte de muita especulação e a tornou lendária. Filha de um advogado e de uma pianista, Louise foi abusada sexualmente por um vizinho aos nove anos de idade. Isso a marcou profundamente em suas relações posteriores (foi casada duas vezes) e, em suas palavras, “amar é um truque publicitário e fazer amor, depois da ruptura inicial por curiosidade, é só uma maneira de passar o tempo esperando que o estúdio telefone”. Mesmo como uma sex symbol capaz de levar homens à loucura, aos moldes de sua personagem em Pandora, ela sempre deixou suspeitas em torno de suas preferências sexuais pois era sempre vista acompanhada de mocinhas homossexuais declaradas. Só no final da vida confessou que teve dois affaires com mulheres, um deles, de apenas uma noite, com Greta Garbo, uma amante “charmosa e carinhosa” segundo sua definição. Infelizmente seu temperamento foi sua ruína. De volta aos Estados Unidos, com o advento de cinema falado, Louise recusou-se a dublar sua produção originalmente muda, The Canary Murder Case de 1929, e os produtores espalharam que tiveram que chamar outra atriz porque a voz de Brooks era muito ruim. A partir daí, sua carreira foi declinando e ela se despediu das telas em 1938, depois de fazer pequenos papéis e dedicou-se a escrever e pintar.

Outra que escandalizou uma época e que põe Lady Gaga no chinelo foi Mae West. Desbocada, cheia de frases com duplo sentido, ela não só atuava como escrevia peças e roteiros de filmes, todos com um forte teor sexual, o que lhe trouxe inúmeros problemas. Apesar de não ser bonita, foi um tremendo símbolo sexual graças à sua atitude ousada e corpo voluptuoso. Sua carreira começou no teatro vaudeville e West só foi parar no cinema, aos 38 anos de idade, na produção Noite Após Noite de 1932. Mesmo em um pequeno papel, ela teve a liberdade de escrever suas falas e sua personagem, safada e sem papas na língua, fez tanto sucesso que o astro do filme, George Raft, disse que Mae roubou toda a produção, menos as câmeras. Em 1935, ela se tornou a segunda pessoa mais bem paga dos Estados Unidos, perdendo apenas para o milionário jornalista William Randolph Hearst.

Em cada filme ou programa de rádio que trabalhava, Mae aproveitava para soltar frases como “ama o teu próximo e se ele for alto, moreno e bonitão, será bem mais fácil” ou “uma mulher apaixonada não pode ser razoável ou não estaria apaixonada”, “sempre que você não tiver nada para fazer e muito tempo para fazer isso, apareça”, “cultive suas curvas, pois elas podem ser perigosas, mas não serão desprezadas” e finalmente a mais famosa, onde ao ser agarrada por um caubói em uma produção, dispara: “você está com um revólver no bolso ou ficou feliz em me ver?”. Obviamente que esse tipo de atitude despertou a raiva dos censores e das organizações de mães e religiosos da America e West foi perdendo cada vez mais sua liberdade, deixando o cinema em 1943, só retornando três décadas mais tarde. Sobre isso limitou-se a dizer: “eu apoio e sempre apoiarei a censura, pois graças a ela, fiquei milionária”. Um detalhe engraçado é que durante a II Guerra, os paraquedistas aliados apelidaram seus coletes salva-vidas amarelos de Mae West porque com eles, ficavam peitudos.

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