Foram lançados recentemente três grandes filmes do mestre da violência Sam Peckinpah em primorosas edições em DVD: Pat Garret & Billy The Kid (1973), Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (1974) e Assassinos de Elite (1975). Peckinpah, que se consagrou no início de sua carreira com faroestes de qualidade, foi o diretor que primeiro colocou nas telas o recurso da câmera lenta nas cenas de tiroteio e acabou inspirando várias gerações de cineastas (Quentin Tarantino que o diga). Em homenagem a ele, preparei uma lista de dez incríveis cenas onde o banho de sangue é tão bem filmado, que se torna lírico.

1. William Holden e sua gangue versus o exército mexicano em Meu Ódio Será Sua Herança (1969): esqueça o título brega. Este é um dos melhores westerns já feitos, mostrando um bando de assaltantes de bancos que se refugia no México e se envolve com um perverso general. A cena final, que levou 12 dias para ser feita, com quatro caras duelando com todo um exército (contrastando com a cena inicial onde crianças jogam um escorpião em um formigueiro) é clássica e imperdível. A direção é do Peckinpah.

2. Tom Hanks e sua tropa versus os alemães em O Resgate do Soldado Ryan (1998): para muitos, o começo do filme é um verdadeiro chute no estômago com corpos dilacerados, o mar tingido de vermelho e muitos soldados gritando “medic!” em meio ao desespero da invasão da Normandia. Qualquer filme de Segunda Guerra feito antes desse clássico acabou perdendo a graça. E isso tudo vindo do cara que nos deu E.T.

3. Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss versus os seguranças em Matrix (1999): segundo um conhecido, essa é a propaganda de óculos escuros mais cara da história, mas não dá para não se impressionar com o bailado dos dois atores e quantidade de balas disparadas no lobby do edifício até a chegada ao elevador. Dá até para esquecer a pseudo-filosofia do roteiro complicado.

4. Al Pacino versus os inimigos de sua famiglia na saga O Poderoso Chefão (1972, 1974 e 1990): caso você nunca tenha prestado atenção ou assistido os três filmes (o que, desde já registro, é um crime sem perdão), cada capítulo começa com uma festa e termina com um massacre com eventuais assassinatos no meio da história. Só que não dá para não ficar de boca aberta com a maestria que Coppola filma cada morte. E são tão originais, que é quase impossível escolher qual é a melhor.

5. Os ‘Federais’ versus Warren Beaty e Faye Dunaway em Bonnie & Clyde, Uma Rajada de Balas (1967): Bonnie Parker e Clyde Barrow foram dois assaltantes de banco que infernizaram o pacato interior dos Estados Unidos nos anos 30 e tiveram sua vida (e morte) levada às telonas pelas mãos do diretor Arthur Penn. A cena final reproduz com perfeição o fim do casal de bandidos já que, na história real, mais de 130 tiros foram disparados pelas forças policiais em direção ao carro onde se encontravam e segundo reza a lenda, mais de 50 balas foram retiradas de cada um dos corpos.

6. Al Pacino versus a gangue de Sosa em Scarface (1983): a adaptação do clássico de 1932 para os anos de 1980, com todo o requinte de crueldade que a época exigia, marcou toda uma década, em especial pela cena da morte de Tony Montana, que enfrenta o bando rival com sua metralhadora e altas doses de cocaína e ainda grita “diga oi para meu amiguinho”.

7. Robert De Niro e Val Kilmer versus a polícia de Los Angeles em Na Linha de Fogo (1995): para muitos gringos, a campeã em termos de tiroteio é a sequência do assalto ao banco no centro de L.A., onde o realismo da ação impressiona pelos inúmeros carros sendo destruídos pelas balas, pedestres fugindo desesperadamente e a única trilha sonora é o som dos tiros.

8. O batalhão de Brad Pitt versus os nazistas em Bastardos Inglórios (2009): Tarantino vingou as vítimas do holocausto colocando um batalhão de judeus massacrando Hitler e o alto comando alemão e distorcendo toda a história da II Guerra. Acontece que o diretor aprendeu a trabalhar a tensão antes de começar a disparar cartuchos e assim a sequencia da cervejaria do porão está destinada a se tornar clássica .

9. Seu Jorge versus a gangue de Leandro Firmino em Cidade de Deus (2002): melhor filme brasileiro dos últimos 20 anos, essa obra-prima não economiza balas, cartuchos e palavrões em suas cenas, especialmente na batalha entre as gangues da favela. Um dos grandes e inequecíveis destaques é a cena em que Mané Galinha parte para se vingar a morte de seu irmão e tio e o estupro da namorada, atacando sozinho o bando de Zé Pequeno e entrando a partir dali, numa vida de crimes.

10. Chloe Moretz versus os mafiosos de Mark Strong em Kick-Ass Quebrando Tudo (2010): o filme passou despercebido nos cinemas brasileiros, mas pode ser encarado como um Tarantino para teenagers. A sequencia final com Hit Girl, a garotinha mais desbocada das telas, massacrando sozinha o bando de Frank D´Amico ao som do tema de Por Uns Dólares A Mais é de trazer lágrimas aos olhos. Desde que, obviamente, você não leve muito a sério.