sexta-feira, 17 de julho de 2009

Há 110 anos nascia James Cagney, um dos maiores gângsteres do cinema

Publicado no Terra em julho de 2009
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Jimmy Cagney foi o baixinho mais enfezado do cinema americano e ao mesmo tempo um dos mais admirados atores hollywoodianos. Nascido em 17 de julho de 1899 em Nova York, Cagney, apesar de ter estreado nos palcos vestido de mulher, estreou inúmeros filmes de gângsteres, sempre fazendo o tipo cruel e violento. Além disso, era exímio dançarino e pintor.

Vindo do teatro, Cagney estreou nas telas através da Warner Bros. em Sinners' Holiday, de 1930, onde nas filmagens ganhou a fama de briguento, já que discutiu com o diretor e se recusou a dizer uma fala que considerava ridícula. Mesmo estreante, ele conseguiu que a fala fosse retirada do filme. O sucesso veio mesmo com Inimigo Público, de 1931. Apesar de ter sido contratado para fazer o papel de mocinho, Jimmy acabou sendo colocado como o gângster Edward Woods. O filme foi um sucesso tremendo e ficou marcado pela famosa cena do grapefruit, onde o personagem, no café da manhã, discutindo com a esposa, esfrega a fruta no rosto de Mae Clarke. No mesmo ano, fez As Mulheres Enganam Sempre ao lado de outro famoso "bandidão" do cinema, Edward G. Robinson. Nesse filme, ele estapeia uma mulher. Sua fama de malvado só crescia.

Em 1932 apareceu dançando e cantando nas telas com Peso de Ódio. Foi nesse filme aliás que começou a lenda de que uma de suas falas seria "Mmmmmm, you dirty rat" (huuum, seu rato sujo), mas Cagney nunca pronunciou essas palavras. Na verdade disse "Come out and take it, you dirty, yellow-bellied rat" (venha aqui e pegue, seu rato de barriga amarela).

Jimmy Cagney nunca esteve muito feliz com seu contrato com o estúdio Warner e começou a discutir e ir contra o sistema dos estúdios. Isso o levou a ficar suspenso por seis meses sem filmar, mas voltou com um novo contrato em Difícil de Lidar, de 1933, e no musical Belezas em Revista.

Em 1935, Cagney processou a Warner por quebra de contrato e trabalhou de forma independente para a Grand National Films. Para a surpresa de todos, ele acabou ganhando a ação na justiça contra o grande estúdio e foi recontratado por este em 1938 por ser sinônimo de boa bilheteria. Neste ano, estrelou um de seus melhores e mais fortes clássicos, Anjos da Cara Suja, ao lado de Pat O´Brien, seu amigo de longa data. No filme, faz um violento bandido que ao voltar para o bairro onde foi criado, descobre que seu velho companheiro de infância se tornou padre. Tornando-se um modelo para meninos de ruas, Cagney é preso e condenado à morte. É aí que seu amigo lhe pede para fazer uma cena de covardia frente à cadeira elétrica para não ser mais uma inspiração aos jovens e, quem sabe, afastá-los do crime. O final do filme é uma ambiguidade, pois não sabemos se o gângster fingiu medo ou atendeu a seu amigo, e Cagney nunca contou sua interpretação pessoal da cena. Acabou concorrendo pela primeira vez a um Oscar por sua atuação exemplar, perdendo para o amigo Spencer Tracy.

Abandonando o papel de homem agressivo, estreou Canção da Vitória, cinebiografia de George M. Cohan, um lendário artista de vaudeville. O ano era 1941 e o ufanismo do filme inspirou os americanos a ponto de ser considerado por muitos como o melhor filme da carreira do artista. Só a pré-estreia paga do filme, uma forma de levantar fundos para o esforço de guerra, levantou mais de 5 milhões de dólares. Esse papel deu-lhe um Oscar de melhor ator.

Em 1942, Cagney e seu irmão abriram sua própria produtora, fazendo filmes com distribuição pela United Artists. Mais focados no tema da guerra, os filmes fizeram relativo sucesso, mas não pagavam o investimento e lá se foi o baixinho de volta para o estúdio Warner, onde fez Fúria Sanguinária, em 1949. Nesse filme fez um de seus personagens mais cruéis e desequilibrados, Cody Jarret, um gângster com sérios problemas edipianos. A última cena, com Cody perseguido pela polícia gritando "Veja, mãe, estou no topo do mundo", entrou para ao anais do cinema.

Na década de 50, chamou mais uma vez a atenção como o gângster judeu-americano Martin Snyder em Ama-me ou Esquece-me, de 1955, ao lado de Doris Day. A atriz chegou a afirmar em entrevistas que Cagney era o ator mais profissional que ela já havia trabalhado, sendo sempre - real - nas cenas. Mais uma vez o ator foi indicado para o prêmio da academia. Logo em seguida veio Mister Roberts, onde atuou com Henry Fonda e Jack Lemmon em um papel menor e o filme foi um sucesso de bilheteria e crítica, rendendo três indicações ao Oscar.

Em 1961, estreou seu penúltimo filme, Cupido Não Tem Bandeira, mas odiou a história, seu parceiro de cena (o alemão Horst Buchholz) e, principalmente, o genial diretor Billy Wilder. Filmando na Alemanha, Cagney teve a chance de visitar o campo de concentração de Dachau. A experiência, aliada às tensões das filmagens, o levaram a decidir encerrar sua carreira.

Por 20 anos, Cagney ficou sem trabalhar, recusando papéis em My Fair Lady e em O Poderoso Chefão II. Diagnosticado com diabete, se retirou de cena, fazendo somente uma aparição para receber um prêmio do AFI (American Film Institute) em 1974. A cerimônia bateu recordes de celebridades e personalidades ansiosas por louvar o grande artista, a ponto de um jornalista ter afirmado que se uma bomba explodisse o local, seria o fim do cinema americano.

Em 1977, um pequeno derrame tirou boa parte de seus movimentos. Em depressão por não poder mais praticar as atividades que mais gostava, como cavalgar, dançar e pintar, acabou aceitando participar do filme No Tempo do Ragtime, de Milos Forman. Para quem ficou tão conhecido como um bandido nas telas, o convite de Forman era no mínimo inusitado. Cagney interpretou um comissário de polícia e, por não poder andar, foi filmado apenas da cintura para cima.

Em 30 de Março de 1986, James Cagney faleceu aos 86 anos vítima de um enfarte. Foi casado com a mesma mulher por toda a vida e deixou um legado criativo tão grande que sua elegia foi lida por ninguém menos que Ronald Reagan, então presidente dos Estados Unidos.

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