quinta-feira, 30 de setembro de 2010

40 anos de quatro grandes filmes de guerra (e as lições que eles passam)

Publicado no site da revista Alfa em setembro de 2010
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Filmes de guerra se dividem geralmente em três categorias: aqueles que querem fazer propaganda velada (ou não) de alguma ideologia, cheio de heróis e vilões; os que querem denunciar o horror da guerra e o absurdo da matança e finalmente os filmes com revisão histórica, tentando bravamente contar o que realmente aconteceu.

Inspiradas pela Guerra do Vietnã, que já ia de mal a pior, quatro produções de 1970 resolveram revisitar conflitos antigos como forma de crítica e alerta e acabaram se tornando obrigatórios para qualquer homem de respeito assistir, pois envolvem ao mesmo tempo, coragem e loucura, exemplos de boas e más lideranças e tipos masculinos inesquecíveis.

Patton: a cinebiografia do mais controverso general americano deu a George C. Scott o Oscar de melhor ator (que ele não aceitou, nem foi receber) depois que Rod Steiger, Lee Marvin, Robert Mitchum e Burt Lancaster recusaram o papel e John Wayne foi “gongado” pelos produtores. Já na primeira cena, com o famoso discurso à frente da bandeira americana, somos apresentados à filosofia rígida do militar em relação aos soldados e aos inimigos (“nenhum bastardo ganhou a guerra morrendo pelo seu país. Ele ganhou fazendo com que o outro pobre e estúpido bastardo morresse pelo país dele”). É um grande exemplo do líder que podia até inspirar seus subordinados, mas não tinha limites em conseguir o que queria, fato que causava horror no alto comando. Em resumo, seu brilhantismo em estratégia foi totalmente ofuscado pela insanidade de suas atitudes. Um filme ideal para aqueles que querem conhecer o que um gerenciamento obcecado pode fazer com uma carreira de sucesso.

Mash: obra-prima de Robert Altman mostrando um hospital de campo na Coréia (mas obviamente remetendo ao Vietnã) e que consegue rivalizar com Dr. Fantástico de Kubrick como comédia de humor negro sobre uma guerra. Cínico, a começar pela música-tema, “Suicide is Painless” (suicídio é indolor, composta pelo filho de Altman, então com 14 anos de idade), o filme tem um desfile de tipos estranhos que tentam passar ao largo do conflito e fugir da insanidade que os cercam, como o certinho e radical major de Robert Duvall, a enfermeira “Lábios Ardentes” e os médicos vividos por Elliot Gould (o pai de Rachel em Friends), Donald Sutherland e Tom Skerrit, que no meio de mortos e feridos, arrumam tempo para se embebedar e jogar golfe. Fez tanto sucesso que acabou virando uma série de TV. Se você quer aprender como trabalhar bem, sem stress, esse é seu filme.

Ardil-22: outro grande exemplo de crítica aos horrores da guerra mostrando um aviador que tenta desesperadamente ser dispensado de seu batalhão alegando insanidade, enquanto vê seus colegas serem mortos. Com uma narrativa não-linear (mesmo porque dizem que o livro em que se baseou, o best-seller de Joseph Heller, foi escrito do final para o começo), o filme mostra a terrível burocracia do exército, as ordens superiores sem lógica e como algumas pessoas lucram no meio de um conflito sangrento. Com um elenco estelar (Alan Arkin, Orson Welles, Anthony Perkins, Martin Sheen e John Voigt) é ótimo para o homem que acha que tem alguma coisa errada com a direção da empresa em que trabalha.

Tora Tora Tora: apesar de alguns críticos o considerarem mais chato que campeonato de bingo, graças ao seu tom quase documental, o filme que aborda o ataque à Peal Harbor dá de 10 a zero na produção de 2001 com o nauseabundo Ben Affleck, especialmente na recriação das cenas da batalha (que lhe valeu o Oscar de efeitos especiais). Pela primeira vez, Hollywood resolveu mostrar as duas visões do conflito, já que a porção americana foi dirigida por Richard Fleischer e a parte japonesa por Kinji Fukasaku (depois que Kurosawa caiu fora). Até mesmo o roteiro foi escrito por um representante de cada país. Obviamente que muita gente na America torceu o nariz para a produção, um fracasso de bilheteria, considerando-a ofensiva por mostrar o despreparo militar e estratégico do país frente ao ataque, mas o filme foi um tremendo sucesso no Japão e serve de lição para mostrar que tudo na vida tem dois lados. Não só o do vencedor.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Brooks e West, as “avós” de Megan Fox

Publicado no site da revista Alfa em setembro de 2010
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Estou com saudades de Megan Fox. Infelizmente agora que está casada, com um grande fracasso na cabeça (Jonah Hex) e demitida do elenco de Transformers III, a menina parece estar mais contida e parou de dar entrevistas deliciosamente chocantes e criar factóides. Ninguém há de negar que a atriz é uma das coisas mais bonitas e gostosas que já apareceu nas telonas (embora eu acredite que sua interpretação mais sensual foi como a neta de Berta lavando os vidros do deck de Charlie em Two and a Half Men), mas um dos grandes segredos do seu sucesso veio de polêmicas, sempre girando em torno de suas preferências sexuais e relação com atores e atrizes. Disse, por exemplo, que queria transar com Olivia Wilde, a 13 do seriado House, que tinha nojo de homens, e que usar os atributos físicos para ter sucesso dá poder às mulheres e não as degradam. Era tanta notícia sobre ela que os sites americanos declararam o 4 de agosto de 2009 como “o dia sem Megan Fox”, ou seja, nada sairia sobre a atriz.

Megan vem de uma grande tradição de garotas-problema que fazem a alegria dos fãs e da imprensa de celebridades e desesperam os mais conservadores. Apesar de muita gente a comparar com Angelina Jolie, outra grande musa cheia de declarações e atitudes bombásticas, com pitadas até de incesto, a história vem de muito antes. Já nos tempos do cinema mudo, o planeta se encantou e se chocou com uma grande atriz, Louise Brooks. Belíssima e de uma personalidade forte, ela não se dobrava frente aos diretores e produtores de uma época onde atores e atrizes não tinham nenhum poder de decisão. Acreditava que uma mulher bem vestida, mesmo com a bolsa vazia, pode conquistar o mundo e depois de conseguir brigar com quem podia em Hollywood foi para a Europa, onde estreou o filme que a tornou mais famosa, o clássico alemão A Caixa de Pandora de Georg Pabst e viveu um tórrido romance de verão com Charlie Chaplin.

Sua vida pessoal, aliás, foi fonte de muita especulação e a tornou lendária. Filha de um advogado e de uma pianista, Louise foi abusada sexualmente por um vizinho aos nove anos de idade. Isso a marcou profundamente em suas relações posteriores (foi casada duas vezes) e, em suas palavras, “amar é um truque publicitário e fazer amor, depois da ruptura inicial por curiosidade, é só uma maneira de passar o tempo esperando que o estúdio telefone”. Mesmo como uma sex symbol capaz de levar homens à loucura, aos moldes de sua personagem em Pandora, ela sempre deixou suspeitas em torno de suas preferências sexuais pois era sempre vista acompanhada de mocinhas homossexuais declaradas. Só no final da vida confessou que teve dois affaires com mulheres, um deles, de apenas uma noite, com Greta Garbo, uma amante “charmosa e carinhosa” segundo sua definição. Infelizmente seu temperamento foi sua ruína. De volta aos Estados Unidos, com o advento de cinema falado, Louise recusou-se a dublar sua produção originalmente muda, The Canary Murder Case de 1929, e os produtores espalharam que tiveram que chamar outra atriz porque a voz de Brooks era muito ruim. A partir daí, sua carreira foi declinando e ela se despediu das telas em 1938, depois de fazer pequenos papéis e dedicou-se a escrever e pintar.

Outra que escandalizou uma época e que põe Lady Gaga no chinelo foi Mae West. Desbocada, cheia de frases com duplo sentido, ela não só atuava como escrevia peças e roteiros de filmes, todos com um forte teor sexual, o que lhe trouxe inúmeros problemas. Apesar de não ser bonita, foi um tremendo símbolo sexual graças à sua atitude ousada e corpo voluptuoso. Sua carreira começou no teatro vaudeville e West só foi parar no cinema, aos 38 anos de idade, na produção Noite Após Noite de 1932. Mesmo em um pequeno papel, ela teve a liberdade de escrever suas falas e sua personagem, safada e sem papas na língua, fez tanto sucesso que o astro do filme, George Raft, disse que Mae roubou toda a produção, menos as câmeras. Em 1935, ela se tornou a segunda pessoa mais bem paga dos Estados Unidos, perdendo apenas para o milionário jornalista William Randolph Hearst.

Em cada filme ou programa de rádio que trabalhava, Mae aproveitava para soltar frases como “ama o teu próximo e se ele for alto, moreno e bonitão, será bem mais fácil” ou “uma mulher apaixonada não pode ser razoável ou não estaria apaixonada”, “sempre que você não tiver nada para fazer e muito tempo para fazer isso, apareça”, “cultive suas curvas, pois elas podem ser perigosas, mas não serão desprezadas” e finalmente a mais famosa, onde ao ser agarrada por um caubói em uma produção, dispara: “você está com um revólver no bolso ou ficou feliz em me ver?”. Obviamente que esse tipo de atitude despertou a raiva dos censores e das organizações de mães e religiosos da America e West foi perdendo cada vez mais sua liberdade, deixando o cinema em 1943, só retornando três décadas mais tarde. Sobre isso limitou-se a dizer: “eu apoio e sempre apoiarei a censura, pois graças a ela, fiquei milionária”. Um detalhe engraçado é que durante a II Guerra, os paraquedistas aliados apelidaram seus coletes salva-vidas amarelos de Mae West porque com eles, ficavam peitudos.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Dez grandes cenas de tiroteio que você não pode perder

Publicado no site da Revista Alfa em setembro de 2010
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Foram lançados recentemente três grandes filmes do mestre da violência Sam Peckinpah em primorosas edições em DVD: Pat Garret & Billy The Kid (1973), Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (1974) e Assassinos de Elite (1975). Peckinpah, que se consagrou no início de sua carreira com faroestes de qualidade, foi o diretor que primeiro colocou nas telas o recurso da câmera lenta nas cenas de tiroteio e acabou inspirando várias gerações de cineastas (Quentin Tarantino que o diga). Em homenagem a ele, preparei uma lista de dez incríveis cenas onde o banho de sangue é tão bem filmado, que se torna lírico.

1. William Holden e sua gangue versus o exército mexicano em Meu Ódio Será Sua Herança (1969): esqueça o título brega. Este é um dos melhores westerns já feitos, mostrando um bando de assaltantes de bancos que se refugia no México e se envolve com um perverso general. A cena final, que levou 12 dias para ser feita, com quatro caras duelando com todo um exército (contrastando com a cena inicial onde crianças jogam um escorpião em um formigueiro) é clássica e imperdível. A direção é do Peckinpah.

2. Tom Hanks e sua tropa versus os alemães em O Resgate do Soldado Ryan (1998): para muitos, o começo do filme é um verdadeiro chute no estômago com corpos dilacerados, o mar tingido de vermelho e muitos soldados gritando “medic!” em meio ao desespero da invasão da Normandia. Qualquer filme de Segunda Guerra feito antes desse clássico acabou perdendo a graça. E isso tudo vindo do cara que nos deu E.T.

3. Keanu Reeves e Carrie-Anne Moss versus os seguranças em Matrix (1999): segundo um conhecido, essa é a propaganda de óculos escuros mais cara da história, mas não dá para não se impressionar com o bailado dos dois atores e quantidade de balas disparadas no lobby do edifício até a chegada ao elevador. Dá até para esquecer a pseudo-filosofia do roteiro complicado.

4. Al Pacino versus os inimigos de sua famiglia na saga O Poderoso Chefão (1972, 1974 e 1990): caso você nunca tenha prestado atenção ou assistido os três filmes (o que, desde já registro, é um crime sem perdão), cada capítulo começa com uma festa e termina com um massacre com eventuais assassinatos no meio da história. Só que não dá para não ficar de boca aberta com a maestria que Coppola filma cada morte. E são tão originais, que é quase impossível escolher qual é a melhor.

5. Os ‘Federais’ versus Warren Beaty e Faye Dunaway em Bonnie & Clyde, Uma Rajada de Balas (1967): Bonnie Parker e Clyde Barrow foram dois assaltantes de banco que infernizaram o pacato interior dos Estados Unidos nos anos 30 e tiveram sua vida (e morte) levada às telonas pelas mãos do diretor Arthur Penn. A cena final reproduz com perfeição o fim do casal de bandidos já que, na história real, mais de 130 tiros foram disparados pelas forças policiais em direção ao carro onde se encontravam e segundo reza a lenda, mais de 50 balas foram retiradas de cada um dos corpos.

6. Al Pacino versus a gangue de Sosa em Scarface (1983): a adaptação do clássico de 1932 para os anos de 1980, com todo o requinte de crueldade que a época exigia, marcou toda uma década, em especial pela cena da morte de Tony Montana, que enfrenta o bando rival com sua metralhadora e altas doses de cocaína e ainda grita “diga oi para meu amiguinho”.

7. Robert De Niro e Val Kilmer versus a polícia de Los Angeles em Na Linha de Fogo (1995): para muitos gringos, a campeã em termos de tiroteio é a sequência do assalto ao banco no centro de L.A., onde o realismo da ação impressiona pelos inúmeros carros sendo destruídos pelas balas, pedestres fugindo desesperadamente e a única trilha sonora é o som dos tiros.

8. O batalhão de Brad Pitt versus os nazistas em Bastardos Inglórios (2009): Tarantino vingou as vítimas do holocausto colocando um batalhão de judeus massacrando Hitler e o alto comando alemão e distorcendo toda a história da II Guerra. Acontece que o diretor aprendeu a trabalhar a tensão antes de começar a disparar cartuchos e assim a sequencia da cervejaria do porão está destinada a se tornar clássica .

9. Seu Jorge versus a gangue de Leandro Firmino em Cidade de Deus (2002): melhor filme brasileiro dos últimos 20 anos, essa obra-prima não economiza balas, cartuchos e palavrões em suas cenas, especialmente na batalha entre as gangues da favela. Um dos grandes e inequecíveis destaques é a cena em que Mané Galinha parte para se vingar a morte de seu irmão e tio e o estupro da namorada, atacando sozinho o bando de Zé Pequeno e entrando a partir dali, numa vida de crimes.

10. Chloe Moretz versus os mafiosos de Mark Strong em Kick-Ass Quebrando Tudo (2010): o filme passou despercebido nos cinemas brasileiros, mas pode ser encarado como um Tarantino para teenagers. A sequencia final com Hit Girl, a garotinha mais desbocada das telas, massacrando sozinha o bando de Frank D´Amico ao som do tema de Por Uns Dólares A Mais é de trazer lágrimas aos olhos. Desde que, obviamente, você não leve muito a sério.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Um homem sem nome, mas com muita personalidade

Publicado no blog da revista Alfa em setembro de 2010
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Você nunca sabia de onde ele vinha e por mais que perguntasse, ele não dizia. Era um cara sem passado, que só tinha o futuro garantido porque sabia disparar um revólver como ninguém mais. Não era um poço de virtudes. Algumas vezes trapaceava e não deixava de usar, quando necessário, algum subterfúgio para conseguir o que queria, especialmente se fosse dinheiro. Sua lealdade era apenas a si mesmo. Nunca perdia a calma e tinha uma personalidade tão marcante que até aqueles que eram considerados maus sabiam que para tratar com ele era necessária astúcia, não força. E por mais que tenha ficado conhecido como “O Homem Sem Nome”, ele se chamou Joe, Manco e Blondie. Ele era Clint Eastwood nos filmes dirigidos pelo mestre Sérgio Leone e recentemente relançados em DVD no Box Trilogia do Homem Sem Nome.

Por Um Punhado de Dólares (1964), Por Uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens Em Conflito (1966) são as produções italianas de Leone que reinventaram o gênero faroeste, criaram o “western spaguetti” e transformaram Eastwood de ator secundário em um seriado de TV em uma estrela internacional. Seu personagem se tornou um dos tipos masculinos mais invejáveis e inspiradores de todos os tempos. Leone extirpou o romantismo do oeste, antes retratado como um lugar limpo e com pessoas impecavelmente arrumadas e mostrou uma época onde o que imperava mesmo era a sobrevivência. Seu estilo de faroeste “sujo” acabou influenciando até mesmo as futuras produções do gênero nos filmes americanos e abriu as portas para “astros” como Terence Hill, Franco Nero e Giuliano Gemma.

Aos atores era permitido brincar com os papéis e compor seus personagens, tomando o cuidado de evitar estereótipos ultrapassados. Foi o próprio Eastwood que criou o visual do “Homem sem Nome” com o indefectível e surrado jeans escuro, o chapéu quadrado, o poncho (que nunca era lavado entre um filme e outro) e o charuto meio consumido na boca. Eli Wallach, o “feio” Tuco de Três Homens Em Conflito, improvisou totalmente uma sequencia onde monta uma arma usando peças de outras, sendo que na vida real, não entendia nada de armamentos. A cena, porém, passa a idéia de que ele era um expert no assunto. Os extras e atores coadjuvantes não podiam ser considerados padrões de beleza. Eram feios, deformados e davam a impressão de nunca terem visto um banho na vida.

Excetuando os bandidos, geralmente psicóticos, os tipos masculinos dos filmes de Leone eram homens duros, mas com uma violência quase comedida, como se cada bala tivesse um destino certo. E ninguém filmou duelos como ele. Em Por Um Punhado de Dólares temos o famoso confronto com o “colete à prova de balas”, imitado décadas depois em De Volta para o Futuro III. Em Por Uns Dólares a Mais, assistimos a criativa disputa entre Clint Eastwood e Lee Van Cleef, dois caçadores de recompensa rivais, que miram nos chapéus um do outro para provar quem tem melhor pontaria. E, no melhor deles, Três Homens em Conflito, há a belíssima sequencia final começando com Wallach correndo em um cemitério circular e culminando com o chamado “mexican showdown” ou “truel”, o duelo simultâneo entre Eastwood, Van Cleef e Wallach numa longa e lenta cena, mostrando os olhos, as mãos e o suor na testa dos protagonistas até o tiroteio começar.

Além disso, Leone gostava de trabalhar o silêncio e o som ambiente, por isso os diálogos eram escassos, mas não menos geniais. O “Homem sem Nome” de Clint Eastwood, por exemplo, era um cara calado, mas quando abria a boca conseguia ser de um cinismo ímpar, como quando declara sua teoria de que existem dois tipos de homens no mundo, aqueles que têm armas carregadas e aqueles que cavam em Três Homens em Conflito. Já Eli Wallach elimina um cara que ficava explicando porque queria matá-lo e resume a filosofia de Leone: “da próxima vez, atire, não fale”.

Coroando as produções temos a música ao mesmo tempo emocional e cheia de testosterona do mestre Ennio Morricone. Amigo de infância de Leone, o maestro compunha a trilha sonora antes das filmagens começarem, baseando-se somente no que o roteiro descrevia e acabou criando clássicos eternos. Corre por aí uma lenda que diz que quando Leone estava filmando Era Uma Vez na América, Robert De Niro o indagou sobre qual seria a motivação principal de seu personagem. O diretor teria se limitado a responder: “ouça a música que Morricone compôs para ele (o personagem) e você vai descobrir”. E o ator achou o que procurava.

Com tudo isso, Por um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito são verdadeiros shows de cinematografia e obrigatórios para qualquer homem assistir e aprender. Porque uma coisa eu garanto, você vai desejar ter um dia a personalidade e a frieza do “Homem sem Nome”.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Dez coisas que você talvez não saiba sobre “Psicose”

Publicado no site da Revista Alfa em setembro de 2010
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O American Film Institute o considerou o filme mais assustador de todos os tempos, o 14º melhor filme na história do cinema e a quarta melhor trilha sonora em um século desta arte e agora Psicose, o filme que fez muita gente ter medo de tomar banho, completou 50 anos em junho.

Baseado em um conto do escritor Robert Bloch e inspirado em um serial killer real, Ed Gein (que também deu subsídios para Leatherface de O Massacre da Serra Elétrica e o Buffalo Bill de O Silêncio dos Inocentes), o filme ainda consegue assustar quem o assiste pela primeira vez (acredite, eu testei isso com uma amiga).

Acontece que a obra-prima esconde detalhes interessantíssimos não só envolvendo sua filmagem, como também da reação do público como mostram as dez curiosidades abaixo.

1. Hitchcock quis fazer um filme que custasse menos de um milhão de dólares, já que as produções de terror baratas (e ruins) conseguiam boa bilheteria. O mestre quis provar que uma boa história ganharia mais. Gastou apenas US$ 807 mil e rendeu cerca de US$ 80 milhões no mundo todo (US$ 32 milhões só nos Estados Unidos). Isso em 1960.

2. A famosa cena do chuveiro levou sete dias para ser filmada e envolveu 70 posições de câmera para apenas 45 segundos nas telas. Em tempo, Anthony Perkins – ou o Norman Bates – não acompanhou a filmagem. Para os mais impressionáveis, saiba que o sangue foi feito de calda de chocolate e o som das facadas nada mais é que uma faca entrando em um melão.

3. Aliás, Hitchcock queria que a cena saísse totalmente muda, mas o compositor Bernard Herrmann criou a música com os sons estridentes e o velho diretor mudou de ideia. A melodia ficou tão emblemática como sinonimo de terror que aparece até em Procurando Nemo (quando a “doce” Darla, a criança que matava peixinhos, aparece no consultório do tio).

4. A casa de Norman Bates foi totalmente copiada do quadro “House by the Railroad” de Edward Hopper, pintado em 1925 e carrega um detalhe que Hitchcock explicou a Truffaut no famoso livro-entrevista: ela é um bloco vertical que contrasta com o Motel Bates, totalmente horizontal. Quer outra “viagem” do diretor? No começo do filme, Janet Leigh aparece de lingerie e bolsa brancas para representar sua pureza. Depois de roubar o dinheiro do chefe, elas passam a ser pretas.

5. No lobby das salas de exibição de Psicose havia um cartaz com a foto do diretor e a frase: “O gerente deste cinema foi instruído, sob risco de sua própria vida a não admitir ninguém na sala depois que o filme começa. Qualquer tentativa de entrar por portas laterais, saídas de emergência ou dutos de ventilação serão rechaçadas à força. O objetivo desta extraordinária medida é, logicamente, propiciar a você um aproveitamento maior de Psicose. Assinado Alfred Hitchcock”.

6. Na verdade, a norma acima (que foi respeitadíssima na época) tinha um objetivo calculado: o grande diretor conduz a platéia com uma série de informações irrelevantes e pistas falsas para chocá-la com a morte da única artista de primeira linha da produção, Janet Leigh. Isso sem contar a surpresa final.

7. É conhecido que Hitchcock adorava pregar peças nas pessoas, mas reza a lenda que ele escondeu a “mãe de Norman Bates” no camarim de Janet Leigh apenas para sentir a potência de seu grito de terror. Pelo que se sabe, ela gritou muito, mas o berro que aparecia no trailer do filme era de Vera Miles.

8. Acredite, foi o primeiro filme a mostrar uma privada funcionando. E mais, Hitchcock se orgulhava por ele não ter nenhum personagem “simpático”.

9. O diretor recebeu uma carta de um pai revoltado com a produção já que sua filha não entrava mais no banho depois de assisti-la. A resposta do mestre foi brilhante: “mande-a para uma lavagem a seco”.

10. O filme teve três continuações: uma que é bem passável em 1983 e outras duas péssimas em 1986 e 1990 (esta para a TV), todas com Tony Perkins reprisando o papel que o tornou famoso e roteirizadas por Robert Bloch. Em 1998 – ninguém sabe lá muito bem porque já que o resultado final é horrível e dispensável – o diretor Gus Van Sant resolveu refilmar a obra, quadro a quadro, com Vince Vaugh como Norman Bates. Já Mel Brooks refez a cena do chuveiro com perfeição milimétrica e resultado hilariante na deliciosa comédia Alta Ansiedade de 1977.