sábado, 15 de agosto de 2009

Filme 'O Mágico de Oz' completa 70 anos

Publicado no Terra em agosto de 2009
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Frank L. Baum tinha 44 anos quando acabou de escrever seu terceiro livro, A Cidade Esmeralda, em 9 de outubro de 1899. O livro, rebatizado de O Mágico de Oz, seria um grande sucesso anos mais tarde, salvando o autor de uma vida repleta de fracassos. Ele havia tentado e falhado na profissão de ator, empresário de atores, vendedor de petróleo, jornalista, produtor de filmes, criador de galinhas e dono de uma loja especializada em apetrechos para vitrine. Foi sua sogra, uma ativista feminista que inspiraria depois a personagem Glinda, a boa bruxa do norte, que o incentivou a partir para a ficção.

Quarenta anos depois de seu lançamento, a MGM estrearia um filme baseado na obra de Baum que arrebataria a audiência de cinemas de todo o mundo e se tornaria um clássico eterno (embora até hoje divida opiniões). Depois do sucesso de Branca de Neve e os Sete Anões da Disney, todos os estúdios estavam ansiosos em conseguir repetir o feito financeiro do pai do Mickey com um filme voltado para crianças, e Louis B. Mayer tinha um trunfo nas mãos, os direitos de filmagem do livro de Baum.

O roteiro começou a ser escrito e reescrito em 1938 com várias alterações em relação ao livro. Além de a obra escrita ser muito violenta para a época (a bruxa má, por exemplo, manda corvos para arrancarem os olhos dos visitantes e 40 pássaros são decapitados pelo Homem de Lata), os produtores optaram por fazer tudo como um sonho, ao invés de um lugar fantasioso que existiria de verdade. No final, nada mais, nada menos que 17 pessoas, entre elas o consagrado Herman J. Mankiewicz, participaram da adaptação da história para as telas.

Para o papel de Dorothy, reza a lenda que o estúdio queria Shirley Temple, a mais famosa atriz mirim da época, mas a pequena não foi bem nos testes. Judy Garland acabou levando a melhor com seu jeito de cantar mais jazzístico que operístico. Mesmo os outros papéis tiveram seus problemas. Ray Bolger havia sido escalado para ser o Homem de Lata, mas preferia o Espantalho, que havia sido colocado para o ator Buddy Ebsen. Concordando com a troca, os produtores se viram diante de uma grave situação. Nove dias após o início das filmagens, Ebsen foi hospitalizado graças a uma reação alérgica à maquiagem prateada, sendo substituído por Jack Hailey. Já a atriz Gale Sondergaard recusou o papel da bruxa má, já que foi alterado em relação ao livro de uma mulher glamorosa para o famoso visual "verruga e chapéu pontudo". Margaret Hamilton, fã incondicional da obra de Baum ficou com a personagem, numa interpretação fabulosa.

O filme começou a ser dirigido por Norman Taurog, sendo substituído por Richard Thorpe. Este, após o incidente com Ebsen, pulou fora do projeto sendo brevemente substituído por George Cukor e finalmente Victor Fleming assumiu a direção. King Vidor acabou dando uma ajuda ao amigo dirigindo as cenas passadas no Kansas e filmadas em preto e branco e depois convertidas para o tom sépia. As filmagens foram difíceis e caóticas. Os atores eram obrigados a chegar muito cedo ao estúdio para passar horas se maquiando e saiam tarde da noite. Isso, seis vezes por semana. Mesmo para fazer a sequência na terra dos Munchkins, a MGM teve de varrer o país em busca de uma centena de anões. Além disso, a atriz Margaret Hamilton se queimou na cena em que desaparece num flash e teve de ser hospitalizada. Outra questão polêmica foi a trilha sonora. Vários números musicais tiveram de ser reescritos e outros foram sumariamente cortados. Até mesmo a clássica canção Over The Rainbow quase acabou ficando de fora no corte final.

Ao custo total de 2,8 milhões de dólares o filme estreou no Teatro Chinês de Hollywood a 15 de agosto de 1939, rendendo apenas 3 milhões em bilheteria naquele ano e oferecendo pouco lucro. Após 10 anos, quando foi relançado, fez um sucesso maior que o da estreia, conseguindo 1,5 milhão de dólares de lucro. De lá para cá, se transformou em uma sensação. Apesar de ser transmitido anualmente na TV americana, as vendas em VHS e depois DVD são crescentes. O American Film Institute o considerou o sexto melhor filme de todos os tempos, enquanto Over The Raibow ganhou a primeira posição em canções de filmes. As frases "Toto, acho que não estamos mais no Kansas", "Não há lugar como o lar" e "Eu a pegarei, minha querida, e seu cachorrinho também" estão entre as 100 mais importantes do cinema.

A Disney tentou fazer uma continuação em 1985, baseado em outros dois livros da série, Ozma of Oz e The Marvelous Land of Oz com Fairuza Balk como Dorothy, mas fracassou imensamente tanto frente à crítica como com o público.

Algumas interpretações interessantes da obra de Baum


Desde que o livro foi lançado algumas pessoas encararam a história de Baum como uma sátira social, enxergando Dorothy como a típica representante do meio-oeste americano que se encontra com um símbolo agrícola (o Espantalho), a indústria (o Homem de Lata), a política (o Leão) e finalmente com a tecnologia (o Mágico de Oz). A estrada de tijolos dourados seria a busca pelo ouro e os sapatinhos de prata (substituídos pelos de rubi, já que o filme era colorido) seria a volta às raízes e à vida mais simples.

O mestre das HQs, Alan Moore, já ousou em colocar uma Dorothy adulta em "The Lost Girls" onde a experiência em Oz nada mais foi que uma desculpa da menina para a descoberta da sexualidade. Ao lado de Alice (do País das Maravilhas) e Wendy (de Peter Pan), todas crescidas, Dorothy se envolve em novas aventuras sexuais.

Talvez a mais divertida interpretação de O Mágico de Oz é sua suposta relação com o grupo Pink Floyd no álbum Dark Side of the Rainbow. A ideia é que se você colocar o LP Dark Side of The Moon para tocar exatamente quando o leão da Metro der seu terceiro rugido (tem de ser em VHS, já que o DVD corre 4% mais rápido) verá que a música do grupo inglês casa com as imagens. É interessante fazer a experiência e conferir, por exemplo, que quando o tornado pega a casa da menina ouvimos The Great Gig in The Sky. Ao chegar em Oz e avistar pela primeira vez a estrada de tijolos amarelos entra o som de moedas da música Money. A frase "the lunatic is on the grass" (o louco está no gramado) acompanha a primeira aparição do Espantalho. Aliás, quando este personagem canta IF I Only Had Brain no filme, no disco ouvimos Brain Damage. Ao Dorothy encostar sua cabeça no peito do Homem de Lata, ouvimos as famosas batidas de coração da música do Pink Floyd. Além disso, o lado um do LP tem a mesma extensão da seqüência inicial em preto e branco do filme. O próprio Dave Gilmour, um dos líderes do conjunto, nega veementemente essa história e Alan Parsons, o engenheiro de som do Abbey Road, que mixou o disco (e depois formaria sua própria banda), disse que era impossível projetar um filme no estúdio naquela época e que ao fazer a experiência em casa se decepcionou bastante. Só por curiosidade, as músicas do Pink Floyd também já foram casadas com o filme 2001, Uma Odisséia no Espaço e o comediante Matt Herzau afirmou que é possível relacionar o disco The Wall com o desenho da Pixar Wall-E, formando a obra Another Brick in the Wall-E.

3 comentários:

Marcelo Tadeu disse...

Nunca consegui ver uma película ou ler o livro até o fim, mas há alguns anos fui obrigado a ver uma peça de teatro infantil... Não me arrependi: com muito bom humor as crianças mandaram muito bem com uma excelente sátira social.
Não sabia sobre o Pink Floyd!?...

Soninha disse...

Entreouvindo nos bastidores:




-Vc não acha a menina Marisa um prodígio? só falta cantar pra ser uma Shirley Temple tupiniquim?
-Tadinha, ela é chatinha que dói, só paulista pra gosta dela mesmo!
-Com sorte vai chegar a ser uma Hebe Camargo, né?

MOSKNASOPA disse...

FALTOU A HOMENAGEM POSTUMA PARA O MELHOR DE TODOS, COM O MICHAEL JACKSON DE ESPANTALHO E A DIANA ROSS DE DOROTHY_!

AGORA IMAGINA UM REMAKE NO RJ, COM A XUXA (OU A SASHA) DE DOROTHY. QUEM ARRISCA O RESTO DO ELENCO_?. . . SONINHA_!