sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Alfred Hitchcock, o mestre do suspense, nasceu há 110 anos

Publicado no Terra em agosto de 2009
Link

Hitchcock levava a sério sua máxima de que um diretor sempre deveria fazer com que os espectadores sofressem o máximo possível. Mesmo na vida real, o criador de clássicos como Janela Indiscreta, Um Corpo que Cai e Os Pássaros, adorava assustar pessoas. Reza a lenda que quando entrava em um elevador, ficava no fundo e quando este estava lotado, começava a discorrer um diálogo com um amigo imaginário sobre como havia matado uma mulher e saído impune do crime. As pessoas dentro do local apertado se desesperavam e só ficavam aliviadas quando saíam e se davam conta que se tratava do roliço cineasta.

Ele nasceu em 13 de agosto de 1899, de uma família rigorosamente católica de Londres. Seu pai era tão duro com os filhos que Hitchcock contou muitos anos depois que era obrigado a ir a uma delegacia com um bilhete pedindo para encarcerá-lo por 10 minutos em uma cela como punição por uma atitude ruim. Sua mãe não ficava atrás neste tipo de educação e acabou inspirando-o na Sra. Bates de Psicose.

Desde que iniciou sua carreira no cinema aos 21 anos, Hitchcock criou muitas de suas marcas registradas. Por problemas de orçamento, aparecia como extra em uma cena ou outra e logo se tornou tradicional a figura do diretor em todos os filmes, até o final de sua carreira. Já famoso, ele disse que passou a colocar sua presença nos primeiros minutos do filme para não distrair a platéia. Uma curiosidade é que no filme Um Barco de Nove Destinos, para manter a tradição, Hitch aparece em um anúncio de jornal que um dos personagens levava em um bote salva-vidas, já que não haveria outro local para sua presença. Em 1929, ao filmar Blackmail, o cineasta fez o clímax do filme ser filmado no domo do Museu Britânico e essa marca, usar grandes marcos para cenas decisivas, passaram a ser constante como a ópera de O Homem que Sabia Demais ou o monte Rushmore de Intriga Internacional.

Não podemos esquecer também dos MacGuffins, termo que dava quando criava uma situação ou subtrama apenas para desviar a atenção dos espectadores; e dos homens inocentes colocados em situações desesperadoras, recorrente em maioria dos seus filmes, em especial em O Homem Errado. Em uma longa e esclarecedora entrevista ao cineasta francês François Truffaut, Hitchcock também explicou sua construção de personagens, em especial o vilão do filme. Acreditava que quanto mais bem desenvolvido e refinado, melhor o filme seria. É só ver Claude Rains em Interlúdio para ver como o diretor tinha razão.

Os filmes de Alfred Hitchcock inovaram porque mostravam que a maldade não aparecia somente através de atos de violência física, mas principalmente na forma de crueldade psicológica. Em A Tortura do Silêncio um padre se vê na pior das situações quando é o principal suspeito num caso de assassinato e o verdadeiro criminoso havia se revelado a ele, mas em forma de confissão. Em A Sombra de uma Dúvida, uma menina descobre que seu tio favorito é um assassino e se remói por isso. Em Disque M para Matar, um homem contrata uma pessoa para assassinar sua esposa, mas as coisas dão erradas quando ela mata seu agressor e ele tenta transformá-la em culpada. Era um universo inédito para a platéia até então acostumada somente com monstros terríveis desenvolvidos para dar sustos.

Um de suas obras mais envolventes e assustadoras é Psicose de 1960. Apesar do diretor, sempre sarcástico, ter declarado que o filme era uma comédia, foi sua chance de dirigir o espectador. Quando de seu lançamento, as salas de exibição receberam ordens de não deixar ninguém entrar depois de começada a sessão já que o começo da história tem praticamente nada a ver com a trama principal. Na verdade o filme começa mesmo com a famosa cena do chuveiro que entrou para a história da cinematografia mundial. Ou seja, por mais de 20 minutos, o espectador está assistindo um Macguffin. O impacto do clássico foi tão grande que muitas pessoas (Janet Leigh, a estrela do filme inclusive) passaram a ter medo de tomar banho. Quando abordado por uma mulher que disse que a filha não se banhava mais depois de ver o clássico, Hitch simplesmente disse: "passe a lavá-la a seco".

Feio, gordo e complexado, Alfred Hitchcock passou quase que toda vida adulta casado com Alma, sua principal colaboradora, de quem teve uma filha, Patrícia em 1928. Seu complexo era descontado na escolha de atrizes, geralmente belíssimas como Grace Kelly e Kim Novak e pela predileção por loiras. Em tempos de cinema mais pudico, ele conseguia colocar uma sensualidade e sexualidade sem igual em suas obras, através de figuras metafóricas, mensagens subliminares e diálogos bem escritos.

Apesar de ter declarado certa vez que atores são como gado, desenvolveu uma preferência por alguns deles como Cary Grant que estrelou quatro de seus filmes, Ingrid Bergman que apareceu em três e a alguns técnicos como o compositor Bernard Hermann que musicou nove filmes e o desenhista de produção Saul Bass que colaborou em três (inclusive na sequência memorável de Psicose).

Hitchcock também foi um dos primeiros cineastas a entender o potencial que a televisão oferecia. Entre 1955 e 1965, apresentou e produziu o programa Alfred Hitchcock Presents onde introduzia curtas de suspense, sempre com um ácido humor inglês e em cenários absurdos como sentado em uma cadeira elétrica. O programa introduziu também o famoso desenho de sua silhueta, feito por ele mesmo, que se tornou seu logotipo.

Apesar de várias vezes nomeado a um Oscar, ele nunca ganhou uma estatueta como diretor. Entretanto, cinco de seus filmes entraram na lista dos 100 melhores de todos os tempos e quatro na lista dos 10 melhores suspenses do American Film Institute. Em 1980, apesar de ter optado pela cidadania americana, foi consagrado cavaleiro da rainha, ganhando o título de Sir. Apenas quatro meses depois, em 29 de abril, faleceu em Los Angeles aos 81 anos de idade.

2 comentários:

Marcelo Tadeu disse...

O cara era muito bom!!
Mestre em nos apavorar sem mostrar violência.
Não dá pra entender tantos filmes entre os melhores da história, sem nunca ter ganho um Oscar!?...

MOSKNASOPA disse...

REALMENTE OS FILMES DO ALFRED SAUM BONS.

AGORA, ESSE NEGOCIO DE OSCAR EH SOH POLITICAGEM.

SE TIVESSE UM AQUI NO BRASIL, A FAMILIA SARNEY GANHAVA TODOS.