segunda-feira, 11 de maio de 2009

Um dos pais do surrealismo, Salvador Dali nasceu há 105 anos

Publicado no Terra em maio de 2009
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Nesta segunda (11/5) se comemora os 105 anos de nascimento de uma das figuras mais controversas e brilhantes que o mundo já conheceu, Salvador Dali.

Um dos pais do surrealismo, corrente artística que enfatizava o papel do inconsciente na criação e é influenciada pelos trabalhos de Freud, Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech, nasceu nove meses depois da morte de seu irmão, também chamado Salvador, em 11 de maio de 1904. Quando criança, seus pais o levaram ao túmulo do outro Salvador e juraram que ele era a reencarnação do irmão, coisa que o artista acreditou até o fim de sua vida.

Perdeu a mãe, a pessoa que mais o incentivava às artes, com 16 anos de idade. Seu pai se casou com a irmã da falecida esposa, que Dali também adorava. Em 1922 foi estudar na Academia de San Fernando em Madrid e morou na "Residencia de Estudiantes", onde conheceu Buñel, que se tornaria o maior representante do surrealismo no cinema, e o poeta Garcia Lorca.

Sempre ferino e polêmico, Dali acabou expulso da Academia pois fez um escândalo na época das provas alegando que ninguém era competente o suficiente para avaliá-lo. Com a fama começando a despontar e incentivado por Joan Miró, foi para Paris encontrar-se com seu grande ídolo, Pablo Picasso. Além dos artistas renascentistas, Picasso e Miró viriam a ser grandes influências em seus trabalhos futuros. Foi nessa época, no final dos anos 1920, que começou a cultivar seu famoso bigode e conheceu o grande amor de sua vida, Gala.

Gala na realidade chamava-se Elena Ivanovna Diakonova e era 11 anos mais velha que o artista, mas isso não o impediu de, em 1929, arrancá-la de seu marido, o também surrealista Paul Élard, e mantê-la a seu lado por toda a vida.

O romance com Gala e suas relações com o movimento surrealista geraram o rompimento com seu pai, que o expulsou da família. Para se vingar, Dali mandou ao pai uma camisinha com seu esperma e um bilhete: "Fique com isso. Agora não lhe devo mais nada."

Em 1931, pintou seu quadro mais famoso, A Persistência da Memória com relógios moles e derretidos simbolizando que o tempo não é rígido ou determinado. Três anos depois, Dali foi para os Estados Unidos para uma exibição em Nova York e chocou a todos quando ele e Gala apareceram em uma festa à fantasia vestidos de bebê Lindbergh e seu seqüestrador. Se você não sabe, o aviador Charles Lindbergh, primeiro homem a cruzar o Atlântico, teve seu filho seqüestrado e morto e o fato chocou a nação americana. Imagine quais foram as reações dos nova-iorquinos com a brincadeira de Dali. Nesse caso, o louco gênio se desculpou, atraindo a fúria dos outros surrealistas.

Dali rompeu com seus antigos colegas por não assumir uma postura mais incisiva nas questões políticas, numa época em que surgiam Hitler na Alemanha, Mussolini na Itália e Franco na Espanha. Ele acreditava que o surrealismo poderia existir alheio ao ambiente político e por isso acabou sendo "julgado" pelos colega e defenestrado do movimento. Sua resposta foi brilhante: "Eu, por mim mesmo, sou surreal."

Depois de ganhar exposições em Londres e fama de "fazedor" de dinheiro pela quantidade de obras que produzia e colocava à venda, fugiu da II Guerra indo para a América, onde conseguiu mais um desafeto. Por ter declarado que rompera com Buñel por ele ser comunista e ateu, conseguiu que seu antigo amigo fosse expulso do Museu de Arte Moderna de Nova York. Os dois nunca mais se falaram de novo.

Em 1949, Dali foi viver na Catalunha e não se importava com a ditadura de Franco (fazia até elogioso ao ditador espanhol). Foi nessa época que começou a incluir muito mais ilusão de ótica, ciência e religião em suas obras. Tornara-se católico devoto, especialmente inspirado pelos acontecimentos em Hiroshima e Nagasaki e pelo começo da Era Atômica.

Além da pintura, o mestre também dedicava-se à fotografia, ao desenho de produção de filmes e às peças de teatro - criou, por exemplo, os cenários dos delírios de Ingrid Bergman em Quando Fala o Coração, de Hitchcock, em 1945.

Na década de 1980, sua saúde começou a piorar, segundo dizem, por tomar remédios dados por sua senil esposa, Gala. Em 1982, ganhou o título de Marquês de Púbol do Rei Juan Carlos da Espanha, seu fã declarado. Gala faleceu em junho de 1982 e Dali perdeu sua vontade de viver. Faleceu em 23 de janeiro de 1989, aos 85 anos de idade.

Salvador Dali não era uma unanimidade. Colecionou desafetos por toda a vida, críticas ferozes sobre seu trabalho, ganhou notoriedade especialmente devido à sua natureza polêmica. O grande escritor George Orwell, autor de 1984 e A revolução dos Bichos, chegou a chamá-lo de covarde e de ser humano desprezível. Isso, porém, não importava ao mestre. Mesmo porque, disse com todo o orgulho do mundo que todos os dias, quando acordava, experimentava um prazer supremo: o de ser Salvador Dali.

Um comentário:

Marcelo Tadeu disse...

Já vi vários trabalhos de Dali.
As grande obras são antes de sua época surrealista, antes de fazer sucesso... Acho que a transformação foi uma jogada de mestre para poder sobreviver com a arte.

Em tempo: você voltou com o gás total!!